sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Licença para uma noite


do poeta e amigo, Walter Zanatta Júnior

LICENÇA PARA UMA NOITE
Nessa noite me permito recordar
quem distante tem o dom de estar presente,
na bruma da saudade vive a me anuviar,
habita o espaço lírico cravado em minha mente.

Essa noite eu ouso dedicar
a quem tanto me inspira mesmo ausente.
Acolho suas palavras na tela a ecoar,
deliro na ternura criativa intensamente.

Essa noite é única, bom lembrar,
pois nada é eterno, nem a vontade da gente.
A chama mais ardente o tempo há de apagar,
 a fúria do acaso  lançará outra semente.

Essa noite me convida a  madrugar,
até que a verdade me desperte brutalmente,
imponha de repente um ser a me aturar,
me impeça de criar meu ser ingenuamente.

Essa noite lentamente irá passar.
Que adule meus sentidos, que me desoriente.
Que crave sua essência, eu hei ruminar
vestígios de uma noite, nada mais, estou ciente.
                                                               

As meias...

Dia nublado, como deve e costuma ser o Dia de Finados. Deposito-lhe flores, quero agradecer-lhe por... já não sei bem o quê, quero agradecer em palavras o que já fizera em atos, estes não percebidos por você por estar demasiadamente ocupado com o que mais gosta. Agradeço-lhe sua presença e ausência, é isto. Tenho saudade sim; acho que isso é bom, pois só sentimos saudade do que foi bom; sinto, principalmente, falta de teus pés aquecendo os meus sempre tão frios, por isso te quis comigo. Se hoje não tenho seus pés, restam-me suas meias (eis meu lado machadiano... vão-se os pés, ficam as meias). Ofereço-lhe flores, as de plástico que não morrem, agradeço-lhe as meias que hoje visto. Não são seus pés, mas já os calçaram. As visto e consigo dormir, as visto e consigo passar a noite, as visto e consigo passar os dias.